quinta-feira, 19 de abril de 2007

A paixão é cega

Por Daniel Brito

Responda rápido:

qual sua reação ao encontrar um deputado ou senador, eleito pelo seu voto, tomando cachaça em um dos bares da cidade em uma noite de terça-feira, por exemplo?

Se você é um eleitor politizado, pode sentar-se ao lado dele e conversar sobre a atuação do parlamentar na Câmara ou cobrar este ou aquele projeto de interesse da comunidade. Se você é daquele tipo adulador, vai tirar foto com ele, fará de tudo para ser visto ao lado do político e, no final, ainda pedirá um trocado para "inteirar o leite dos mininos".

Agora, se você cruza com um jogador de futebol (do seu time do coração) tomando cerveja em uma festa popular, sua reação é:

1) Puxar conversa com ele, tirar fotos, pedir autógrafo e ainda brindar com ele por ter tido o prazer de encontrá-lo à paisana?

2) Chegar reclamando por ele estar bebendo, quando deveria estar cuidando da saúde?

É curioso como o futebol cega o torcedor. Ele fica mais preocupado com o jogador que bebeu do que com o político embriagado. Como se futebol fosse mais importante que qualquer coisa no planeta e o jogador fosse uma pessoa acima do bem e do mal que não pode ter nenhum tipo de regalia.

Beber cerveja e curtir carnaval fora de época é pecado mortal aos olhos do torcedor. "O time está mal no campeonato porque ele enche a cara todas as noites", resmuga a maioria cega. Então só se bebe quando o time está na liderança da competição?

Coisa semelhante acontece quando o jogador deixa o time por falta de salários. Gente que não sabe nem escreve o nome direito enche a boca para chamar o atleta de mercenário. Ora, se você trabalha e não recebe salários, você não pode largar o emprego?

Pode.

Mas jogador de futebol não pode!

Está na hora de acabar com essa história de jogador não poder curtir a vida. Ele pode, sim. Deve, aliás. Não cabe à torcida ou à imprensa se intrometer na vida pessoal do atleta.

Se os hábitos noturnos estão afetando o desempenho do jogador dentro de campo, não adianta apelar ou partir para a crítica descabida. Deixe que a inteligência do treinador tire o cachaceiro do time titular. Se o treinador não for inteligente, então vá se queixar ao presidente do time (que geralmente, não entede muita coisa de futebol).

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